E lá fui eu para mais uns exames, era hora de definir por onde andava esta dita cuja a espalhar o seu charme, entre os vários que tive que fazer e diga se de passagem desta vez tudo foi bastante rápido, mas obviamente, não podia escapar de uma pequena aventura com o exame que eu mais precisava, o chamado “Pet”:

“Os exames de PET permitem a obtenção de imagens tridimensionais da distribuição das moléculas marcadas no corpo humano. Numa fase inicial, injeta-se no doente uma pequena concentração de glicose radioativa numa veia periférica. A quantidade administrada será proporcional ao peso do doente. Este exame permite avaliar o modo como os órgãos e tecidos funcionam, ao contrário da ressonância magnética ou da tomografia computorizada, que fornecem uma informação mais estática.”

E agora que levaram com a wikicúmplice, vamos lá a aventura, pois é isso de precisar um exame de urgência, leva a que até nos pode calhar a porta de casa ou lá para uma qualquer terra distante, e logico o que havia de calhar ao cúmplice, ligar uma senhora numa sexta feira e dizer, que na segunda feira tinha que estar as 8h30 da manhã em Santa Maria da Feira para fazer o exame, ah! Ok! 112 quilómetros de casa, tipo, não havia nada mais perto da Bairrada, que até aproveitava para almoçar por lá?

Não havia, mas a senhora deixou me logo descansado, que haveriam transportes a partir do Porto, para me levar, e cúmplice não se preocupe, alguém lhe vai ligar entretanto. Fiquei descansadíssimo, até passar a sexta feira toda, o sábado e o domingo, e nem sinal da chamada, ou seja segunda feira é para estar onde?, que isso do porto é um pouco para o largo de extensão.

Bem toca fazer um rastreio completo a todas as chamadas que eu recebi e descobrir como vamos contactar esta gente toda ao domingo, entre variadas pesquisas de uma clínica que obviamente estava fechada ao domingo, lá consegui descobrir a empresa de transporte de doentes associada, e consegui finalmente um número de telemóvel, atende uma senhora toda simpática que lá confirmou o meu nome numa suposta lista, mas que nada sabia sobre a chamada que me deveria ter sido feita, sitio combinado, tudo marcado, resolvido.

Ou não, então não é que a senhora me manda para o sítio errado, resumidamente, teria que estar no porto as 7h20 e lá estive, 8h30 e nada de ambulância, nem qualquer suposta chamada do motorista, entre várias chamadas em que o homem vinha a caminho, lá descobrimos, que eu estava no sítio errado do hospital de Santo António, a minha sorte, o homem estava mesmo atrasadíssimo, até da clínica me ligaram a perguntar onde eu andava. Mas pronto cheguei a tempo do transporte e lá fomos.

O Pet em si, é levar com um agente radioativo nas veias, ficar numa sala com pouca luz 1 hora, estar esticado 25 minutos, e depois esperar 40 minutos meio zonzo, até poder vir embora

Logico o cúmplice meio zonzo, chegou cá fora viu o senhor da ambulância e perguntou-lhe se ia já para o porto, disse que sim e lá fui, não fosse acontecer como de manhã, pelo caminho lembrei me, ah! a senhora tinha dito para eu esperar, o motorista só se ria, mas prontos se ligassem, ele voltava lá para ir buscar mais gente, e eu lá voltaria com ele, não ligaram ufa ufa !

Resultado do Pet: o linfoma pelos vistos estava localizado na zona da lesão e dos gânglios unicamente. O que na altura era uma excelente notícia, tratamento recomendado “Radioterapia”

Radio ga ga radio go go, radio lá vamos nós, próxima especialidade já com consulta marcada.

Cenas dos próximos capítulos: “O Cúmplice, os espirros e a máscara de ferro.”

Nota: Isto não é uma obra de ficção, qualquer semelhança com a realidade, é mesmo realidade, palavra de cúmplice.

E então a especialidade que se segue é a “Hematologia”, aqui não soaram os alarmes porque o cúmplice desde o primeiro diagnostico tinha perfeita noção de que por aqui ia passar, a esperança na altura é que uma cirurgia e meia dúzia de tratamentos pudesse resolver o assunto, mas assim não foi e então vamos lá a especialidade que já não nos deixa qualquer dúvida, a partir deste momento somos doentes oncológicos.

“A Hematologia cruza-se com praticamente todas as especialidades médicas e cirúrgicas, dado que a abordagem multidisciplinar do cancro é fundamental para um melhor prognóstico da doença. A Hematologia presta todos os tratamentos farmacológicos como a Quimioterapia, Imunoterapia e Terapêuticas Dirigidas, e também recorre a Radioterapia.”

E é nesta parte que a bagagem que trago de outras experiências me dá percepção suficiente para perceber o que ai vinha, então esta é uma boa altura para redefinir planos e ideias, um longo caminho nos espera onde as respostas serão bem menos que as dúvidas, que irão sempre persistir, onde a forma silenciosa como tudo se ira desenrolar, nos deixará demasiado ansiosos se assim o deixarmos, onde se poderá notar evolução física e aparente que nos fará dar gritos de contentamento, mas onde demasiadas coisas não se poderão ver se estão bem ou mal, e saber esperar calmamente será uma grande virtude.

Tudo isso tem que se levar em conta, e o mais importante, independentemente dos tratamentos que aí vierem, termos noção que de hoje em diante quem irá mandar será o nosso corpo, e tudo o que pudermos fazer ou não, irá depender dele, ou seja cabeça bem limpa, preparar nos da melhor forma para as noticias que se seguem, basicamente resumiria numa frase “Não é a doença e o seu processo, que se vai adaptar a nossa vida, é a nossa vida que vai ter que se adaptar a ela”, e acreditem tudo se adapta, não posso é fazer spoiler.

Vamos lá então conhecer a doutora M., e aqui posso fazer um pouco de spoiler, a doutora ainda hoje, sempre que me vê sair daquele consultório, deve ir a correr, arranjar maneira de pedir reforma antecipada, só para não ter que levar comigo, mas prontos foi a sorte que lhe calhou não foi doutora? (como sei que ela vai ler, na próxima consulta já levo com laxantes a fazer de comprimidos para uma qualquer patologia não identificada)

E esta consulta de 16 de Outubro foi muito simples e resume-se:

"O cúmplice sabe porque está aqui, as opções de tratamento serão radioterapia ou quimioterapia, ou mesmo ambos, os efeitos desses tratamentos não são dos mais agradáveis, mas são a possível cura e a solução que temos, agora vamos fazer os tais exames para definir quais os procedimentos, reunir e em breve voltamos a falar."

Foi tão simples quanto isso, porque não se precisa de divagar muito mais nestas situações, não existe muita mais informações que se possa dar, desde o porquê do linfoma ter aparecido, ao que pode acontecer com os tratamentos, ou seja cada individuo irá experiênciar um processo diferente, duas pessoas com exactamente o mesmo cancro, podem ter processos completamente diferentes, sintomatologia, efeitos colaterais, evolução da doença, aceitação do corpo aos fármacos que serão usados.

Por isso minha gente, sem filmes, sem drama nem horror, vamos lá ver o que se segue, paz e tranquilidade é o que se quer por estes dias, noticias boas ainda não havia desta vez.

Cenas dos próximos capítulos: “Radio ga ga, radio goo goo”

Nota: como sei que estavam com saudades minhas por não dizer nada por estes dias, tomem lá um relato comprido que hoje é domingo e têm tempo para ler.

“Houston we have a problem”, oh se temos e por esta altura já nem era preciso ser um detective da scotland yard para o perceber, nos entretanto e ainda antes da próxima consulta, a dita cuja talvez devido a falta da atenção que eu lhe dava, e diga se de passagem, nem o gânglio nem o nervo queriam saber da moça, esses, só estavam bem a atazanar-me o juízo e as noites. A dita decidiu então convidar os amiguinhos, as chamadas lesões satélites (este post tinha tudo para nos levar ao espaço), umas pequenas lesões a volta da Madame, enganam se aqueles que as avaliam pelo tamanho, pois estás ao contrario da dita podem se tornar muito irritantes se forem lá mexer, são tipo aquelas picadas de insectos que quando se começa a coçar, nunca mais conseguimos parar. Mas prontos desde logo percebi isso, e dai em diante foi ter muita atenção para não irritar o bando, afinal o meu ombro era o planeta escolhido que havia eu de fazer.

Mas voltemos lá a Terra, e vamos lá ver se é hoje que percebemos como se vai lidar com toda esta rebaldaria espacial, o cúmplice só queria respostas e entre esta consulta, uma outra marcada e um telefonema, finalmente vai se perceber o que por aqui se passa, pois, como é óbvio, houve coisas que se atrasaram pelo caminho.

Veredicto final, ora então meu caro cúmplice o problema é só um, a dita afinal estava em sintonia com os gânglios, e era mesmo com um linfoma que lidávamos, a partir deste momento ficou desde logo claro para a cirurgia estética que o problema já não poderia ser tratado por eles, seria necessário agora passar para uma nova especialidade e fazer mais exames para se perceber a dimensão da coisa, e onde ela poderia andar fazer das suas, a cirurgia desde logo estava posta de parte, próximo destino “hematologia”, e lá vamos voltar para o São João, e já estaremos a meio de Outubro quando isso acontecer.

Nos entretanto, uma carrada de comprimidos para as dores e desconforto por causa dos outros dois armados em parvo na minha axila, o que vale é que os meus amigos já me conhecem meio aparvalhado e os efeitos psicóticos da medicação nunca se fizeram notar.

“Linfoma”: No linfoma, os linfócitos multiplicam-se de forma anómala e acumulam-se nos gânglios linfáticos, fazendo com que estes aumentem de tamanho, ou podem circular por todo o organismo e atingir outras regiões e órgãos, linfoides e não linfoides, como o baço, o fígado, o tórax, o abdómen, a medula óssea e os pulmões.

As respostas, para o meu caso vão ter que esperar, entretanto vamos lá fazer mais um “Reset” mental, que isto vai ser um longo caminho por certo.

Cenas dos próximos capítulos: "Oh Sr. Doutôra e boas noticias, não há?"

Nota: Esta viagem ao espaço teve o patrocínio único e exclusivo dá minha parvoíce, voltar a terra nem sempre é fácil aqui por estes lados.

Dia D, duvidas? decisões? Desafios? Diagnostico? de tudo um pouco para ser verdade, este é daqueles dias que ansiosamente estamos à espera, mas quando chega a hora  tudo nos vem a cabeça, e claro está não sou a excepção, duvidas existiam bastantes, sem nunca deixar de ter noção de que aquilo que me esperava não podia ser grande coisa, afinal, se era assim tão incomum, por certo, resolver, não se iria tornar assim tão fácil de um dia para o outro, decisões já estavam bem tomadas, fosse lá o que fosse, podia ter certeza que ia ter que levar comigo, não era eu levar com esta festa toda no corpo e deixar me ficar, desafios ? anteviam-se muitos e para esses, já eu me ia preparando, pois fosse cirurgia, fosse qualquer tipo de tratamento , algo estava para chegar, e este ano afinal já tinha sido tão desafiante, bora lá que estou com a pica toda.

Resumindo, uma noite um tanto o quanto mal dormida, e desta vez a culpa nem foi do gânglio e do nervo andarem armados em parvos a roçarem se um no outro, foi mesmo aquele estado de quem nunca mais vê a hora chegar e de ter certas respostas que já começavam a tardar.

E lá estava o cúmplice a hora marcada, vamos lá ao desembarque de notícias, pois bem, dos vários exames feitos, já haviam algumas respostas e outras que não, estão a ver mais uma vez aquilo do tempo que demora?

E sai o primeiro diagnostico para a mesa 27, então o primeiro a dar a cara foi o Senhor gânglio, resultado “linfoma”, a minha primeira reacção sinceramente foi “oh pá com a bagagem que eu já trago de lidar com cancros nos últimos anos, vamos lá a mais um que já vou treinado”, pois é nos últimos 6/7 anos lidei com o cancro do meu pai e o da minha mãe, e todos vão ser seguidos uns atrás dos outros, e que bagagem isso me deu?

Muita, mesma, pois em ambos os casos como tive oportunidade de lidar de perto, fosse no acompanhamento médico, nos cuidados alimentares e em tudo o que lhes pudesse proporcionar as melhores condições possíveis, para que a aventura deles fosse o menos penosa possível, desde logo tudo fiz para obter o máximo de informação sobre a melhor forma de o fazer, consoante as suas particularidades, estilos de vida e óbvio, obtendo toda a informação possível sobre a doença/tratamento  e na forma com eu lhes poderia ajudar a atenuar quaisquer efeitos adversos.

E sem dúvida o consegui, e isso agora vai me ser muito útil, pois já sei bem o que me pode esperar.

Ou seja, “linfoma” era o primeiro diagnostico, mas para o cirurgião algo não batia certo, e faltando a biopsia da dita cuja ainda haveriam dúvidas, ele achava que poderia não haver relação.

Fico feliz ou fico contente?

Levo com um linfoma, e ainda estou sujeito a ter outra porra qualquer no ombro, aí a minha vida Sr. Doutor, mas prontos lá vamos ter que aguardar mais uns dias, até novas respostas, consulta marcada para daqui a uma semana, para já nem vou pensar em demasia nisso do linfoma, e dá próxima vez já falamos melhor sobre isso.

Cenas do próximo capitulo: “Houston we have a problem, serious Sherlock ?”

Nota: Se acharem este texto muito comprido, é porque é mesmo, a culpa é de eu ser um tagarela, aquela parte dos erros já sabem.

Pois é, pois é, isto do homem andar a chafurdar no gânglio não correu nada bem, o incomodo resultante vai se tornar daquelas coisas chatinhas dos próximos tempos, do resto dos exames, poucas saudades ficam da ressonância magnética, aquele túnel encostado as bentas como se diz cá pelo norte, e o ter que estar quietinho durante tanto tempo não é cá para o cúmplice, que como dizia o meu pai, tem bichos carpinteiros.

E por falar em bichos, então não é que não me bastava a dita cuja no ombro, o gânglio agora chateado pela pica, que tinha que me aparecer mais um convidado surpresa, ora vamos lá as apresentações.

Síndroma de nervo axilar, já ouviram falar? aposto que não, ora o que é isto, imaginem lá um elástico daqueles de borracha bem grossos que se lembra de se esticar na axila, bem lá debaixo onde vocês gostam de chegar o desodorizante, e tem ali um relevo que parece uma barbatana sempre que levantam o braço, é que este senhor de alguma maneira incomodado pela presença do gânglio lembrou se vir para a frente dele.

Festa é festa, e este meu ombro/axila por esta altura mais parecia um salão de baile, e quem sofria a noite? o cúmplice claro, já precisava de posicionar o braço para dormir tranquilo, agora ainda levava com o atrito do nervo a encostar no gânglio, resultado, nos próximos tempos só me safo com Brufen, e nas alturas mais criticas foram precisos medicamentos bem mais fortes, mas lá chegaremos, importa ressalvar que sem Diagnósticos precisos para combater o real problema, só me é receitado algo para aliviar dores, nada mais do que isso, ou seja aguenta te cúmplice.

Logicamente a partir daqui as minhas rotinas diárias começam a ficar afetadas de certa forma, o gânglio lá adormecia com brufen´s e afins, mas o nervo, se no início até gostava de umas voltas de bicicletas pela posição dos braços, mais tarde começou a gostar mais de estar quieto, é que até a trepidação do braço ao caminhar incomodava o senhor.

Sem fazer grande spoiler, acreditem esta foi talvez a parte mais chata (fisicamente) de toda a aventura, e nem era mesmo as dores que se controlavam medicado, era o total desconforto, que tudo isso provocava, quem não gosta de uma noite tranquila, e eu vou ter bem poucas nos próximos tempos.

Mas agora vamos lá descansar, que o diagnóstico vem aí.

Cenas do próximo capítulo: “Dia D, o desembarque das noticias”

Nota: chafurdar e bentas, foram palavras que sempre eu sonhei usar num post, finalmente sinto me realizado.

Isto nem deu para curar a ressaca do aniversário, mas o que vale é que eu até nem bebo, e chegamos ao dia 13, consulta marcada para as 13h, eu sei o que isto parece..

Bem, sem dúvidas que a minha motivação estava nos píncaros, finalmente a dita cuja ia ter a devida atenção e claro está, a minha curiosidade destas andanças pelos corredores da cirurgia plástica e afins, ia finalmente ser saciada.

Bora lá até Valongo, e não é que para espanto meu, nada de paparrazis, nada de altas máquinas estacionadas a porta do hospital, divas de Hollywood, nem vê las, e tias de Cascais muito menos, mas cúmplice deixa te lá disso e siga ao que interessa.

Finalmente sou chamado, e lá estava o Dr. S a minha espera, as apresentações, e vamos lá ver o que se passa por aí, uma coisa posso dizer, finalmente alguém enfrentou a dita cuja como é devido, para além da famosa fotografia que não podia deixar de acontecer. O médico calçou as suas luvas de látex, e agarrou-se a dita como se não houvesse amanhã, cheguei mesmo a acreditar que a coisa ia saltar fora, e eu, lá ia para casa como novo, mas não, a dita resistiu a todo aquele reboliço, a coisa boa ou boa noticia, é que a dita estava na sua extensão acima da pele e não aparentava qualquer prolongamento abaixo da mesma, menos mau, mas agora vamos lá marcar uma carrada de exames, que isto de só apalpar a dita não resolve nada.

Pois bem os próximos dias vão ser agitados, biopsia ao gânglio, biopsia por cirurgia invasiva a dita cuja (retirar um pequeno pedaço de pele), “toma la que vais levar com a faca”, TAC e ressonância magnética ao ombro direito, tudo marcado com uma certa rapidez, se não me falha a memória no espaço de uma semana estavam todos feitos, e agora só restava esperar pelos resultados, isto é, se não me calhasse uma coisinha má pelo caminho, então não é que o homem que me faz a biopsia deixou me aquele gânglio todo dorido, vai ser bonito vai, mas venham de lá esses resultados ou nunca mais chegamos aos dias de hoje, a parte das dores fica para a próxima, que não posso ser só eu a sofrer. esperar por dia 27, para nova consulta.

Cenas do próximo capítulo: “Uma tudo bem, dois era escusado, três a serio?”

Nota: Já sabem aquela parte dos erros, não sabem? Se não, ver post anterior que dá muito trabalho voltar a escrever tudo de novo (que foi, o que eu acabei de fazer).